Indo embora.
Tudo escuro na sala e você está bem ao meu lado, cadê sua mão
aproximando-se da minha? Tímido, que lindo. O filme é engraçado,
sua risada também, e eu dou um riso de leve, o seu é tão bonito... Você
se retrai novamente. Tímido, que lindo. A noite está bonita, e oh! Me
deste uma flor e ao ver a tentativa de focar meu constrangido olhar
no seu, abaixa a cabeça. Tímido, que lindo. Eu vou embora e
você assiste parado à minha partida, braços cruzados. Quando eu
olho para trás, você sorri constrangido. Tímido, tão tímido. Numa
tarde de segunda-feira você se aproxima e me pede licença para
um beijo, concedo. Agora é fim de tarde, mais beijos, um friozinho,
um carinho e uma rosa. E eu gosto de rosas, você sabe. Muitas vezes
são vermelhas, mas sempre são rosas. A partir daí, virei eu a sua flor,
sua. Mais uma tarde, que bela! O azul tão azul, o verde tão verde.
Olha, é um coração! Tão grande... É o seu? Tão belo e sutil. Não
se preocupe, não parece bobo. É tímido, lindo. Hum... Não, não
vamos à praia, vamos ficar aqui mesmo. Grande sombra, grande
árvore. Olha só, são sementes vermelhas! Seriam mesmo
sementes? Recordo-me bem de ter aqui deixado pequenas
partículas de meu coração. Hunf! Temos visitas, são
percevejos... Mas de que importa? O odor é tão, tão
pequenino. Seu perfume invade minhas narinas, tão bom! Qual
o nome dele mesmo? Ternura? Ou seria carinho? Não importa, é
bom. Mais uma segunda-feira... Um filminho? Não, eu quero
conversar, gosto da sua voz. E do alto vemos o pôr-do-sol.
Uma carta, palavras e palavras... Eu sou sua flor sim, mas minhas
pétalas não são tão frágeis assim, meu amor... Que loucura,
sinto-me tão confusa. Acho que é seu perfume que começa a me
embriagar. Oh, não posso! Não posso ficar bêbeda agora, não sei
se quero. Quando as pessoas ficam bêbedas a visão delas
se turva, elas perdem os sentidos e não distinguem o certo
do errado. Não, não posso, sinto muito mesmo. Preciso ficar
lúcida, me desculpe, me desculpe. Queria que estivesse olhando
para mim, por favor, pela última vez... Queria poder te pedir um
sorriso, mas não posso, sei que agora é impossível. Escute, não é
preciso suplicar! Você nunca morrerá dentro de mim, estará vivíssimo
para sempre. Acho que é por isso que eu tenho que ir. Imagina só
se quando bêbeda eu te mato sem querer ou cometo suicídio? Não,
não posso, não vou deixar isso acontecer. Ei, quero que se lembre de
mim, não me mata não, tá? Eu gosto tanto de você! Eu te dei tudo o
que eu tinha, mas agora não tenho mais nada. Que seja feita a minha
vontade? Não, é mais "precisar" do que "querer". É isso. Vamos lá, o
último abraço? Oh, tão triste, tão amargo esse abraço... Se cuida por mim! Estou
indo, até um dia. Você continua aí sentado perto do restante do meu coração,
milhares de partículas vermelhas são deixadas novamente no mesmo lugar.
Não se preocupe, ele tem tempo para se regenerar. Continua aí sentado
na companhia dos percevejos, um pequenino odor. Por favor, guarde o
meu perfume com você! Continua aí sentado de braços cruzados me vendo
partir mais uma vez. Só que agora quando olho para trás você não sorri,
apenas me lança um último olhar e o direciona novamente para o chão estampado
de percevejos e pedacinhos de coração. Você não sorri, e mesmo triste continua lindo.
Vim embora, mas saiba: Eu sinto sua falta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário