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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sirva, se quente.


Não falo de jantares a luz de velas, pelúcias gigantes, chuva de pétalas, serenatas cinematográficas ou presentes com datas e horas marcadas pra alcançar as mãos e os olhares fascinados de seus destinatários. Não falo de frases prontas, poemas ensaiados e recitados ao pé do ouvido à meia luz ou em pleno banho de chuva. Nem tão pouco papéis assinados seguidos da duvidosa jura que torna a morte a única vilã capaz de separar os amantes. Eu falo é de impossibilidades, de riscos, surpresas e provas em que o sentimento é posto todos os dias. Falo do amor improvável driblando a lógica da razão, contestando teorias, rumores, estatísticas e prazos determinados. Sendo avesso às suposições. Defendo os amores mal resolvidos como premissas de um eterno laço invisível, cheio de desassossegos, espasmos e contradições do que é posto como natural no verbo amar e todos os seus tempos. Amor é sim atemporal. Desmedido e desobediente. Distinguível. Grito pelo amor desafiante, apressado pra se realizar, atento aos detalhes, observador padrão. Daqueles que acontecem o ano inteiro, não daquele rito cômodo, no mês de junho quando o consumo dita ordens e é pecado não amar. Levanto bandeira pros que desafiam a ordem do amor passivo, que espera um sinal, um luar, uma certeza, um sei lá mais o quê pra acontecer. Não falo dos amores iguais, me ganha os amores que se opõem, das diferenças à sabedoria das fusões. Prefiro os amores de noites inteiras ou fins de tarde chuvosos como condição de gastar infinitas horas por baixo – ou por cima – de um edredom quente, ou em ebulição. Não quero os amores mudos, que poupam expressões. Sou adepta dos telefonemas fora de hora com todos ou nenhum motivo pra acontecer, do cuidado cotidiano, do ócio compartilhado, dos beijos, abraços e amassos desavisados, não como selantes de uma briga mas como partes dela, contraditoriamente etapas de um confronto. Afetos e afagos em banco de praça, acampamento no meio da sala, dança improvisada. Declarações imprevisíveis, inéditas, impensáveis até pelo próprio fomentador, traído pelo coração tagarela. Dispenso os que se economizam. Eu prezo é o amor que é gasto com prazer, que é escasso, raro e inquieto. Tenho preguiça do que é a prazo, do lento, do morno abrandado com soprinhos. Faço passeatas é pelo amor singular, especial, que tem pressa, fome e sede de ser. Não pra ser breve mas porque não se contém. Um amor que desafie a ordem das possibilidades. Aquele que derruba os limites das quatro paredes e grita aos sete cantos a quê veio, que não pára na primeira topada pra ajuste de falsos moralismos ou pra consenso de olhares de reprovação. Não me interessam os temporários. Sou fã de amores de verão que duram todas as estações, de encontros não permitidos e conquistas diárias sagradas por suas singularidades. De gestos que entregam a intensidade, o nome, endereço e RG do sentimento sem medo de denunciá-lo abertamente. Não me apetecem os amores dos contos de fadas, eu brindo é o amor que contrasta as minúcias da realidade. Bato palmas é pros amores de fim de dia estressante, comida pronta pra dois, duas taças ou uma adega inteira pra eternizar datas inventadas pra somar.
A receita eu não tenho, mudo as medidas a cada refazer. Mas fica a dica a quem tem coragem de experimentar este novo prato do menu, tão diferente do nosso de cada dia: se lambuze, se permita, repita, só não deixe esfriar. É receita desandada, bolo que não cresce. E o amor é o prato principal, que sobressalta, que merece atenção. Então se adiante, não espere que este venha no final, como sobremesa. Sirva, sirva-se, enquanto quente, porque o paladar de corações intensos e a sensação de satisfação é urgente e evidente demais pra esperar o amor e todos os seus sabores virem à mesa.

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