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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

“Ela não passava de uma pirralha, mas ele viu nela o que não viu em mais ninguém. 

A verdade é que ela era um saco. Ria de tudo, principalmente nas horas erradas, levava tudo ao pé da letra e sempre se magoava com muito pouco. Tinha esse tique de ser sempre mais esperta que todo mundo, e isso a levava a despejar informações como se fosse uma enciclopédia falante. Ele sinceramente não entendia com
o havia vindo parar no meio daquela confusão que ela chamava de vida (logo ele, meu Deus do céu, que nunca teve paciência nem com a bagunça dele), mas de duas coisas tinha certeza - o sorriso dela era de todos o mais bonito, com aquelas covinhas adoráveis e seus dentes pequenininhos, e ela sabia fazê-lo feliz como mais ninguém.
E se ela era chata, ele era rabugento. Não gostava de praticamente nada, não concordava com absolutamente ninguém e se achava superior às coisas que aconteciam aos meros mortais. Porque - pasmem - ele se julgava verdadeiramente imortal, por cima do bem e do mal. Literalmente brincava com o perigo, fazendo coisas que ela (sempre contabilizando riscos e listando efeitos colaterais e possíveis consequências) nunca faria em sã consciência. Ou em consciência nenhuma. Não entendia muito bem como foi parar naquela montanha-russa, descarga constante de adrenalina, que ele chamava de vida, mas ela gostava - ele contava piadas ótimas, tinha aquele jeito charmoso de quem não se importa com muita coisa e olhava pra ela como se ela fosse a menina mais bonita de todo o metauniverso.
Nunca foram muito parecidos, nem se sentiram muito “alma-gêmeas-feitas-um-para-o-outro”, mas que sempre se deram muitíssimo bem e que sempre pareceram se completar é fato. Com aquele jeito tímido, certinho, educado até demais, receoso, sorridente e alegre de quem não conhecia muita coisa da vida, ela conseguiu fazer com que a rabugice dele diminuísse. Sabia o fazer feliz, sabia o fazer melhor… Ficar perto dela, para ele, era realmente sinônimo de alegria constante, coisa que ele havia se considerado privado havia muito tempo. E com aquele charme, aquele destemor, com seu jeito aventureiro, errado, errante, bem-humorado e inconsequente de quem já viveu mais do que deveria, ele fez com que ela experimentasse, pela primeira vez, viver. Não segundo palavras pré-decoradas de enciclopédias e livros de ciência, mas segundo o seu coração. Se ela tosou as asas dele pra que ele não desse uma de Ícaro-filho-de-Dédalo e voasse alto demais, ele a deixou saber que ela também tinha asas.”


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